sábado, 19 de janeiro de 2008

Danielle Fonseca (Belém, 1975)

Currículo:

2001 Salão da Base Naval Museu Naval; Salão Arte Pará (2000 a 2005, da Fundação 2004 Rômulo Maiorana; X Salão de Pequenos Formatos da Unama.
2001 Participou das exposições coletivas: Abril Pra Arte, Museu de Arte de Belém
2002 IV Encontro dos Artistas Plásticos do Pará, Museu do Estado do Pará MEP.
2003 Exposição Onze Reflexos de Max Martins no CCBEU.
2002 Exposição Faxinal das Artes, com curadoria de Agnaldo Farias - MAC - PR.
2003 9º Salão de Artes de Itajaí - SC.2005 12º Salão da Bahia - BA.
2003 Galeria Henfil "Diálogos"- São Bernardo do Campo -SP.
2005 Recentemente participou do projeto de intercâmbio entre artistas brasileiros e Ingleses denominado Fluxo de Arte Belém Contemporâneo. Além da exposição "8 solos s/ superfície", na Galeria Theodoro Braga.
2005/2006 Realizou a individual "O Tao Caminho", no Laboratório das Artes - Casa das Onze Janelas -PA. Resultado de uma Bolsa de Pesquisa e Experimentação do IAP(Instituto de Artes do Pará).
2006 Salão Pequenos Formatos UNAMA-PA.

Prêmios:
2001 - Prêmio Aquisição no Salão Arte Pará-PA,obra:EU TE VI SATIE.
2003 -.Prêmio Aquisição no Salão Arte Pará-PA,obra:A CASA.
2006 - Prêmio Aquisição no Salão Unama de Pequenos Formatos - PA , obras :ENTRE A LUZ E O MAR I e II ;O MAR NUM CANTO DA JANELA.

Bolsas e Projetos de Residência:
2002 - Projeto de Residência Artística Faxinal das Artes - PR.
2005 - Bolsa de Pesquisa e Experimentação Artística - IAP - PA.

encomend@yahoo.com.br
www.otaocaminho.zip.net/
Série: Pianos de Brinquedo



Daniele Fonseca brinca com Cage e Glass ( música & imagem-texto)





Ilton Ribeiro[1]


Existe um diálogo da imagem e o som já percebido ao longo dos séculos, percebe-se um certo incômodo desde o momento em que, no ato de se fazer algo visual para a memória sonora (música) se fazia também um desenho colorido; as primeiras partituras chegavam a trazer iluminuras; iluminuras na porta do texto eram tidas como uma luz que iluminaria o caminho do leitor, é a retirada do sujeito da escuridão.
Esse diálogo de imagem e som se aperfeiçoou com a chegada das óperas, período em que marca a história dessa relação amorosa do sonoro com visual. A ópera configura um diálogo mais complexo de linguagens: Palavras, pinturas, música, teatro, figurino (que chegaram muitas vezes influenciar a moda não só na Europa) de uma cantora que também é atriz, e que pode virar pop estrela.
Daniele Fonseca nasceu em Belém (1975) começou expor suas obras a partir de 1995 e sempre manteve um desafio do diálogo de linguagens distintas, principalmente com a literatura (Max Martins) e a música (John Cage, Phillip Glass, Eric Satie, etc).
John Cage (1912-1992) foi um singular inventivo da música erudita no ocidente, lembra-se quando num teatro, um dos principais de Nova Yorque, numa noite de gala, um público seleto, todos lugares preenchidos, então Cage entra com um piano de brinquedo e toca uma composição para tal brinquedo. Imagine a cara dos críticos conhecedores de música. Works for piano & prepared piano são célebres composições de Cage, já interpretado e registrado por gente como Joshua Pierce, Maro Ajemian, Merilyn Crispelli e Joe Kubera[2].
Phillip Glass (1937) sempre foi acometido pela “palavra – imagem”. Dedicou-se a um poema sinfônico sobre os Rios da Amazônia (cd Águas da Amazônia)[3] e entre tantas trilhas sonoras destacamos a do filme “Ponto de mutação” onde no final do filme a música de Glass se mistura ao poema de Neruda (Mindwalk, 1990 EUA, direção de Bernt Capra).
Em fevereiro de 2001 o professor Coli publica na Folha de São Paulo um ensaio intitulado túnica dos sons. E traz uma imagem da cena da sarça ardente da ópera de Schoenberg, ele se referia à apresentação de tal obra no Metropolitan em Nova Yorque, no ano de 1993. Coli se dedica a esse estudo semiológico já alguns anos, ele lembra duma citação de Nattiez quando diz: “É verdade que toda a música age sobre nós, mas nós o sabemos, desde o trabalho de Hanslick: “a música não significa nada por si própria” ( Coli, 1993). Hanslick havia apresentado em 1854 uma obra intitulada “Do belo da música” onde apresenta a dicotomia música poesia – especificações irredutíveis, linguagens que são possíveis ao esmiuçamento, mas não entendê-las como unidade, sem hipótese alguma de fusão.
Na década de 70 (século XX), teóricos franceses discorreram sobre esse fenômeno. Eram semiólogos, entre eles se destacava: Jean – Jacques Nattiez, Bruno Nettl, Nicolas Ruwwet sob a batuta de Jean Molino, tendo como canal a revista “Musique em jeu”. Eles se preocupavam com a música enquanto linguagem e tentavam explicá-la em métodos inspirados na lingüística estrutural e generativa.

Da imagem – texto para música

A Imagem e a música sempre viveram uma briga de amor – ao contrário do que se pensa – seja como música, ou como imagem. Um exemplo daquela é a ópera “Moses und Aron”[4] composição de Schoemberg, de herança hebraica e que portanto obedece uma tradição de que seu Deus não pode ser revelado em imagem. Todavia nesta ópera, começada em 1932 – inacabada – traz uma cena do Antigo Testamento quando Deus (....) resolve fazer-se imagem para um mortal (Moisés) por meio de uma sarça ardente – Esse encontro fez com que o rosto de Moisés tenha ficado de tal forma iluminado que o povo hebreu, durante alguns dias, não conseguia contemplar o velho patriarca. Pensar que a voz de Deus que não se revela em imagem pode ser vista por meio de uma sarça e agora levado para uma interpretação sonora pode ser no mínimo extraordinário, no sentido que se desafia como som aquilo que não chegou a ser imagem (imaginado) no texto.


A voz de Deus na Sarça e as tábuas quebradas dos dez mandamentos

Da música para imagem-texto

A obra “Pianos de brinquedo” da artista plástica Danielle Fonseca é uma "brincadeira" com dois importantes compositores contemporâneos, John Cage e Philip Glass, pode considerar que seja um exemplo dessas inquietações visuais, construída da relação da artista com a obra de músicos . Para aproximação da obra de Cage, em especial “pianos de brinquedo”, a artista manteve o desenho de pingos infantis de tinta escorridos no pentagrama, a concretização visual para uma música que deveria ser tocada (num brinquedo) como uma brincadeira. Para Glass a artista manteve a palavra: “pa pa pa pof/ velocípede sem pedal. A versão do Philip parece sem realejo da sorte”. A artista prefere fazer com que Glass jogue com a palavra, um compositor de estilo minimalista pode ser paciente com o ato do som-palavra-letra. Certa ocasião ao se referir ao estilo minimalista na música, o compositor Steve Reich trouxe uma imagem para facilitar sua explicação “é como uma nuvem passando”. A palavra velocípedes pode ser uma ironia a quem espere velocidade contida na própria palavra, nada é veloz nas pernas de uma criança, que mesmo ao querer correr refaz sempre o caminho. Como aquela história que a criança pede sempre para repetir – e que na verdade é sempre uma nova história. Uma música no velocípedes – algo tão imaginário – é sempre uma nova música. Diria-se isso também para uma música de brincadeira.


Partituras: 1, 2 e 3 de Daniele Fonseca

Bibliografia e créditos das imagens:

http://www.artenauniversidade.ufpr.br/muvi/artistas/d/daniele_fonseca/imagem/web_portrait.jpg ( consultado em 31/03/07 – retirado as imagens de D. Fonseca e obras 1, 2,3)

http://www.jackmitchellphotographer.com/Philip-Glass.jpg (consultado em 31/03/07 - retirada a imagem de Glass)

http://blog.estadao.com.br/blog/media/cagej.jpg (consultado em 31/03/07 – retirada imagem de Cage)

http://www.operaactual.com/foro/viewtopic.php?p=76872&sid=085c950459eb50e328c2ad87b8de5f8f (consultado em 31/03/07 – retirada imagem de Arão e Moises )

Coli, Jorge, Túnica dos Sons, Folha de São Paulo, Mais, 25/02/2001 pg 4 a 9


[1] Poeta, artista plástico, graduado em letras e especialista em semiótica UFPA.
[2] Existe uma gravação muito conhecida pela Wergo, Alemanha, 1991
[3] em parceria com o grupo Uakti de Marco Antônio Guimarães (1948) mineiro de Belo Horizonte que tem um trabalho singular sobre música no Brasil.
[4] Obra já longamente analisada por teóricos como Otto Maria Carpeaux e George Steiner.